PEDIATRIA UFF
Relato
de caso de abscesso cerebral em recém-nascido
J.M.S,
sexo feminino, DN:12/04/00. Com 13 dias de vida, internada na Enfermaria de
Lactentes do Hospital Universitário Antônio Pedro - HUAP.
História perinatal sem anormalidades. Mãe fez pré-natal regular.GI/PI. Nasceu em outro hospital. Parto transvaginal a termo, sem asfixia (sic). PN: 2500 g. Alta com 72h. Icterícia (fisiológica) do quarto ao décimo dia de vida. Recebendo leite materno e complemento.Com 13 dias, apresentou crise convulsiva. Trazida ao HUAP, recebeu diagnóstico de sepsis neonatal tardia e meningite bacteriana por E.Coli.Tratada inicialmente com Ampicilina e Amicacina (cinco dias). Após o resultado da cultura e antibiograma do líquor, foi substituída a ampicilina por Cefotaxime. Imagens de ultrasom transfontalela e de tomografia de crânio, evidenciaram a presença de abscesso cerebral frontal bilateral e ventriculite. Clinicamente, evoluiu com proptose ocular esquerda. Submetida a punções da lesão esquerda.. Foi então associada maior cobertura antimicrobiana para germes Gram positivos (Vancomicina), bem como para anaeróbios (Metronidazol), além do Cefotaxime já instituÍdo, conforme orientação da literatura mundial. Embora não tenha sido isolado novo agente nas culturas seriadas de lÍquor, evoluiu com persistência das lesões por imagens. Após nova punção da lesão ainda purulenta, foi ampliada a terapêutica com o Meropenem além da Vancomicina (suspenso o metronidazol).Após seis semanas desta última associação, completando 60 dias de internação, e 73 de vida, obteve alta em boas condições clínicas, com aumento proporcional do perímetro cefálico, diminuição relativa da proptose, sugando bem, sem uso de anticonvulsivantes. Foi encaminhada para o ambulatório de neuropediatria e de neurocirurgia, para acompanhamento da hidrocefalia supratentorial conseqüente instalada.
Abscesso
cerebral consiste na localização de material purulento encapsulado na substância
cerebral. Embora reconhecido há mais de 200 anos, com relato de sua associação
a cardiopatias congênitas cianóticas, a ausência de clínica evidente
exuberante, associada à freqüente gravidade de sua evolução, implica na
necessidade de instituição terapêutica, o mais precoce possível 1,2.
A
literatura mundial, sem destacar o período neonatal, relata 56% de abscessos
causados por germes anaeróbios. A associação mista de flora anaeróbica a
Gram positivos e negativos, seria de 26% 2.
No
recém-nascido, surge em geral, como complicação de meningite neonatal,
apresentando como agentes mais comumente envolvidos, citrobacter, proteus, serratia e
enterobacter. Tem sido descrita a salmonella
como germe isolado em abscessos cerebrais de alguns recém-nascidos 1,2.
1
Pong,A;
Bradley,JS. Bacterial Meningitis.
Infectious Disease Clinics of North
America.1999. 13 (3), p711-33.
2
Cochrane,DD. Brain abscess.
Pediatrics in Review. 1999. 20 (6), p209-15.
CASO : PROFESSORES GLÁUCIA MACEDO DE LIMA e MÁRCIO VASCONCELOS